terça-feira, março 25

Camafeu

São seis e meia, final de expediente normal no centro da cidade
Os transeuntes seguem anônimos na usual pressa sem observar
Uma cena de filme mudo que, sem legendas, não ilustra seu final
Sei que trazes teu rosto perfeitamente maquiado, dia ou noite
Nunca foste pedir obséquios a ninguém e não se vê interesseira
Será que eles estranhariam se, à tarde, despencasses do 30º andar
No chão, espalhados sua carteira, duas fotos sem dedicatória
Causarias mais impacto com tua nudez, que no impacto ao chão
A vida é isso amor, uma queda, um agarrar-se no vazio sem voar
Traçamos paralelas buscando respostas que, muitas, nunca vêm
O vento, nada além de vento, faz justiça a quem não sabe amar
Vivemos um tempo impreciso, que imaginamos que seja infinito
Essa subjetividade não conduz a razão à plenitude do abstrato
Cada dia é uma peça do enigma, um perplexo camafeu do saber
O destino pode estar, ouça-me, ao dobrar da primeira esquina
O que te falo é para que não se dissipe o teu olhar inutilmente
Para carregar junto ao peito todas lembranças e todos olvidos
Assim não terás nos bolsos, algo pelo que implorares por perdão
Pois, um belo dia poderemos despertar em sobressalto, bem no
meio da noite, alma inundada de histórias dançando sozinhos

 


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