quarta-feira, março 19

Segunda-Feira

Sem coro e sem plateias, lá vai o poeta com seu chapéu
Antes que chegue abril, sorve as últimas luzes pelo céu
Caminha sem ansiedade e admirando a beleza do jardim
De flores desnudas abstraídas que o outono já começou
As quais lhe enfeitam a memória. Não é como biografia
Só breves trechos, tirados a bisturi, de velhas histórias
Foi cego aos que o julgaram, pelos paraísos onde passou
Assim se manteve livre das teias insidiosas da demência
Vitimado da ilusão – não importa – pois se permitiu crer
Buscando um coração onde vira um ondulante quadril
E o rubro silêncio brotou dos seus lábios como sangue
Nessa e em muitas outras vezes por verões abrasantes
Só encontrou foi flores plásticas, beijos feitos de látex
Amores cibernéticos, nada para admirar ou a recordar
O luar se ergue detrás da parede, as putas enfileiradas
Esperam que a noite lhes seja tão generosa quão gentil
Que lhes protejam da tirania das chuvas e dos ladrões
O poeta caminha na calçada alheio aos chamamentos
Criando versos de palavras que parecem indecifráveis
Um concerto de hendecassílabos lhe ilumina o rosto
Que fariam Castilho revolver-se de tanta indisciplina
A liberdade montada a cavalo, em plena segunda-feira


Nenhum comentário:

Postar um comentário