Fevereiro
Então, os
olhos que fizeram morada de tantas lágrimas
Calaram-se qual a tempestade que
se despiu dos ventos
Como o
pássaro que,
engaiolado, abdicou de seu canto
O tempo
consumado se
saciou na quietude dos minutos
E assim estes olhos passaram
muito tempo adormecidos
Numa tarde
de outono, era quase noitinha e ela chegou
No meu
peito ferido, cicatrizes vibram com sua chegada
Vestia
branco,
como a verdade que brilha nas clareiras
Abriu a
porta para o
pássaro voar e ele não foi embora
Antes, lhe
pousou no
ombro e afinal ali pôde descansar
Um silêncio de céu, mar e luz,
um silêncio transluzente
Sob essa luz
o pássaro segredou
cantos no ouvido dela
E com a
ponta dos dedos, esquadrinhou a sua geografia
Sobre suas asas de almíscar, brilhou
uma luz lápis-lazúli
As criaturas da terra veem os
ponteiros mirarem o céu
Meio-dia é consumado, chegou a hora de colher frutos
O sol
cintila sobre o chão crestado, ainda é tão deserto
E a luz
dispersa as sombras reunidas à noite, sob a cama
De um sono
fustigado e sem
sonhos, é preciso acordar
Dar-se conta
de que
habitava um continente de cegos
E a mentira
nutria os
espelhos desse mundo sem portas
Empertigo-me
na cadeira, a pulsação
tranquila e ritmada
Confesso que sei, a
morte pode vir no azul do horizonte
Viro a
página, risco um poema, afinal, já não é fevereiro
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