domingo, junho 1

Desterro

Esse meu desterro permeável, semi-sedentário e surreal
Nele, as palavras se misturam aos lugares que nunca fui
Onde ocorrem as circunstâncias daquilo que nunca vivi
Mas que sinto na minha carne, qual uma saudade porosa
A arte tem essa aura de resgatar memórias inexplicadas
Eu, o romântico concreto, incabido em notas didáticas
Vejo que o dia, entre o céu e o almoço, lambe o tempo
A boca vivente, dois ouvidos em meio ao silêncio abissal
Que deseja, contudo, derruir os frios muros à sua volta
Expor, atrás das máscaras, as inocentes faces de mentir
Estendo as asas imprescindíveis para não deixar rastros
Apenas tanger um torpor imaginário, qual a névoa crua
Lentamente faróis incendiam os rostos dos automóveis
Vejo-os num suspiro p’las janelas abertas pra Via-Láctea
É o anoitecer que nos lança um olhar inteligente a mais
O grilo que, sobre o ombro direito, canta suas crônicas
O dia enfim dissipa e restam homens livres da aparência
Resplandece o céu detrás de todas as máscaras caídas
O que se houve compreendido já não existe neste chão
Um pássaro não confunde o vento em sua nua verdade

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário