terça-feira, junho 3

Contrapontos

A poesia por vezes é o triste oboé, outras o jovial trompete
O poema exercita as sombras nesses sopros, no escuro véu
Tão seco e plúmbeo, avaro de doçuras, em antigos lençóis
Será a morte laboriosa silenciosa num amargo céu de junho
O verso não basta, amar é pouco, nesse galope desvairado
Somos uma densa fábrica de tristezas nesse outono febril
E tudo que resta é desterro, bordado de parcas memórias
Contudo se bem olharmos o moinho da vida, veremos vida
Qual se não morrêssemos amanhã, não morreríamos jamais
Além dos trovões que nos assaltam nas noites de pesadelo
Se provermos os ouvidos abertos virá um som de concerto
Com seus timbres que fazem vibrar os alicerces do silêncio
Mil lâmpadas se acenderão, tramando entre velhos retratos
Pela volta da luz como nunca, em busca de claras memórias
Menos ácidas, entre tantas, nas gavetas azuis do cotidiano
Enfim o poema eclodirá, renascido no amor reencontrado
Nunca mais seremos os mesmos a brilhar na luz do destino
 

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