Este é um daqueles dias em que
a certeza da mortalidade se faz real
Que certo dia nossa alma
deixará este corpo alquebrado, rumo à luz
No entanto, muitas questões
demonstram estarem longe da solução
Irá para novas regiões ou
descansará no lugar que chamamos paraíso?
Deitar-se-á entre as nuvens
desfrutando do sussurro de doces fontes?
Poderá compreender as vozes que
hoje apenas chamamos de trovão?
Queria poder afirmar a
existência do murmúrio da brisa entre árvores
Onde os campos recenderão a um
divinal perfume incomum de rosas
Paisagens elísias nas quais
melodiosos rouxinóis narrarão este poema
E assim não parecerá sem
sentido ou pueril, antes uma verdade una
Suas palavras não parecerão
ocas tal como retiradas de um transe
Ainda que esteja como sempre
estará, encoberto de mil mistérios
A solidez de suas estrofes se
atreverá a fulminar todas as dúvidas
E o poeta que jamais dorme
seguirá a narrar seus contos dourados
Buscando alegrar outras almas
como fazia aos homens antes de ir-se
Tornará a dizer de suas paixões
de suas mágoas e tantas desilusões
E que, entretanto, sua glória
suplantou qualquer traço de vergonha
Por nunca se saciar, se calar,
ter a pena arrebatada ao conformismo
Na busca infinita de saber de
si, para preencher as lacunas, para ver
Que por paradoxal que seja ao
reconhecer a morte, tornar-se-á imortal.
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