O palpável destes tempos esconde um
quê de mórbido
Será que se poesia neles houvera,
esta já teria morrido
São dias turvos, cônicos e ardidos. São
tensos os dias,
Como poder manter o sol na mente e
calor no coração?
Se as sondas do porvir apontam acres
refluxos em ondas
Irão assim nos surpreender tais
solilóquios tão férvidos
Essa vida, mesmo no verão exibe seus
outonais signos
Uma forma lânguida de um ser que
reside na lembrança
Um corpo macio desnudo habita entre
os veios do sonho
São inúmeros caminhos, ao tato, traçados
pelos lençóis.
Meu olhar penetra nas camadas dos
abismos do passado
E detrás, todas as coisas que se
gravaram na minha pele
Do eco ao sangue como uma crua vesânia
a me desafiar
No fundo da alma a sacudir os sonhos,
romper as raízes.
Ando pelos cantos da vida e as ruas
estalam meus passos
Toco nos sons, cheiro os movimentos. O
tempo avança...
Sem ninguém a cumprimentar, gatos,
heróis ou mendigos
Se vai a noite e sigo pelas tardes a
pisar pela relva miúda
Entre os trigais, indiferente ao
frescor há tanto esquecido
No obscuro alheamento que se arraiga
este meu caminho
E tão só o silêncio margeia a estrada
como uma vertigem
O frio interior é como um fantasma de
tempos esquecidos
Gélido tal o aço dessa faca que um
dia me fendeu a carne
Não há onde se refugiar, ninguém a
vir em meu socorro
Quem irá em algum velho ataúde minhas
cinzas carregar
Sim os dias são tristes quase tanto
quanto usar costeletas
Em meus sonhos imagino o doce carinho
de uma mulher, mas
Minha vida segue sua sina impassível,
seja chuva ou sol.
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