No avançado da
noite faz-se em mim um lume de poder criador
Que me
avassala os sentimentos, como fúria incontida ou invasão
Um cordão de
luz que nasce livre no fundo de minha consciência
Se aprofunda
entre os pensamentos e emerge recompondo os fatos
Assim nasce, a
cada madrugada como fênix, o poeta dentro de mim
Sem que eu
mesmo saiba qual ígneo acontecimento leve a ser assim
Como ser alado
que é, ave quiçá, logo ocupa o espaço na trama do ar
Desprende-se
da trama original rumo aos céus num voo em espiral
Sob a fria sombra
da aliança o poeta ultrapassa os limites impostos
Seu voo suplanta
a dimensão onde se urde o desamor e a insipiência
Libertário das
vozes antes prisioneiras transita rumo à luz da aurora
Na alta madrugada
anseia no infinito que se cumpram as promessas
Comporta em si
próprio todo o axioma da verdade na fluidez do ar
Na pura
contemplação admira palavras nunca dantes pronunciadas
Quando a
madrugada finda o poeta recolhe asas à procura do pouso
Diante do
espelho seus pensamentos flutuam em outras dimensões
Seja o
criador, seja a criatura o poeta move sentimentos estagnados
Da sua força
geradora, plúrimo de identidades se recompõe humano
Assim volto a
mim, volto a ser despercebido nos meus dias comuns
Enquanto outra noite
não vem, sigo só, solitário nos fios da grande teia.
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