O poeta é um eterno sofredor, é a
tristeza que se personifica
É uma voz contra o vento, gesto levado
para lá do horizonte
Também é a flor que renasce a fazer
cada dia uma primavera
Uma ave que mesmo triste faz seu canto
na chegada a aurora
O poeta cultiva versos, semeia frases,
ara pomares de palavras
Na terra crestada, nas areias do
deserto, nas nuvens de sonho
É menestrel que reverencia o sol sem
culpa de ter anoitecido
O poema germina, indiferentemente, seja
da vida ou da morte
Na mesma palavra se oculta o riso e a
lágrima, a vinda e a ida
O poeta é o trem que abandonou os trilhos
e foi noite adentro
Foi seguir um solo de saxofone, por
estreitas vielas, sob o luar
É um coração que só quer carinho, mas
até aceita os espinhos
Haverá, Augusto1, alguém que destarte se salve nesse
hospital?
(1 Augusto dos Anjos: “O
coração do poeta é um hospital onde morrem todos os doentes”)
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