Angústia
O dia se abriu com uma nostalgia profunda que fez
sulcos em sua alma
Uma angústia enorme ansiou-lhe pela face no escuro do
pré-amanhecer
Vagas lembranças de caminhos fugidios, trazem a
sensação de solidão
Nas ruas inda vazias não notava nenhuma presença seja
visível ou não
As calçadas úmidas do sereno dos dias frios refletem das
ruas as luzes
Dores lavradas em poesia cuja origem manifesta é projetada
na sombra
Memórias vêm em turbilhão, aquecem a mente no atrito
das vibrações
Acendem o clamor vívido doando a claridade interior tênue e furtiva
Inda pouco a noite agasalhava o sono e sua cabeça
repousada sonhava
Um sonhar que se condensa e cujo espectro corporifica-se
em matéria
Gera em corpo animado e quase real, doce remota imagem
do passado
Assim ele percorre com a mão a distância bastante para
tocá-la em vão
Na sua clausura vence o espaço na esperança de lhe sentir
a pele clara
Qual um veludo de textura inigual, tecido pela saudade
dessa distância
Recorda-se dela, os cabelos ondulados ao vento,
dourados como trigais
Sente o perfume inebriante, próprio das fadas, como
poderia esquecer
Mas ela fugiu e seus corpos separados trouxe uma
solidão inimaginável
Que vem se desdobrar diante dos olhos, invariavelmente,
entristecidos
Sem o brilho do fogo que ardia lhe no interior,
restaram cinzas infindas
Tudo de beleza que clareava seu rosto, agora ofuscado,
é grito remoto
Mas um dia a página se reabre a uma eletricidade que
lhe invade a alma
Ouve o clamor do sentimento aprisionado no seu peito pela
volta à luz
O novo canto lírico surge em imagens a tecer uma teia
de perspectivas
Nesse coração em que se desdobravam as sombras,
germinam sementes
Para afastar o vazio, mudo de gestos, que antes lhe
aparentava infinito
Renasce a confiança que eles, homem e mulher, partes
do mesmo existir
Suprem-se de um amor inenarrável capaz de nutrir-se
mesmo à distância
Não será mais a distância física de um oceano que se
chamará ausência
O querer vence o espaço, liga suas almas que vivem em
terras distantes
A claridade restaura o rito e a vida ávida de desejo
enfim recria o ritmo
Na flor desse desejo se liberta o pássaro que voa na
direção do amanhã
nossa.. sensacional! Li e reli.. esse eu não havia lido, acho que pulei sem querer.. ADOREI!
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