terça-feira, setembro 9

Tem(po)²ema

Ventava nessa tarde, era um final de inverno qualquer
Os olhos miravam, vazios, os objetos flutuando pelo ar
Pouco a pouco se pôde sentir um cheiro de terra úmida
Nuvens breves abrem frestas, para derramar raios de sol
Nos olhos humidamente vivos, brilha a íris sem o arco
A sombra do sorriso dela decompõe toda a dor antiga
E cruza todas as fronteiras sobre as areias e as ondas
Desvendando o espaço e a verdade entre mil estrelas
A tarde se esvai, qual as nuvens se foram, vem a noite
Os planetas em suas excêntricas órbitas tão distantes
Trazem o calor de sua lembrança, contando histórias
Sara-me as feridas, apaga as mais profundas cicatrizes
Porém não me atrevo de novo a pronunciar seu nome
Apenas dizer que guardo em todas cores sua imagem
No matiz do silêncio, ouço-a a bater na porta da alma
Teço o verso como um laço de palavras para lembrar
Pensamento e movimento feitos em minha língua mãe
Queria aprender a voar, mas sem me arriscar no vazio
Abracei tantos braços tão frios qual portas fechadas
Já conheci anjos negros se disfarçando de esperança
Num mundo submerso pelo abandono, seguro sua mão
Invento meu próprio tempo que se conta em estrofes
Que assim poderá
eternizar o coração que nos habita

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário