Crisálida
Os terríveis pássaros
gerados pela febre e delírio
Vêm sobrevoar meu rosto a me
deformar a visão
Vindos de um espaço negro e
sem forma definida
Nutrem-se de meu desespero e
crescerão ferozes
Eu deveria saber a par de
afogar-me de esperança
Nada nasce do sangue
derramado pelas alamedas
No espelho vejo em meus
olhos inundados, o verde
Contrasta com rubras
molduras que os obscurece
Estou só e a solidão me
oprime e rouba meu fôlego
Apertando meu peito e
turbando meu pensamento
Estendo as mãos com os dedos
abertos em súplica
Mas, nada logro e diante de
mim só um grave vazio
As sombras de ausência de
quem amei com loucura
São sombras da vida aflita
desfilando diante de mim
Passam diante de mim tal u’a
caravana de retirantes
Seu andar serpentino, guiado
na fúria do abandono
É tudo que ouço no rumor de
uma angústia sem fim
Meus temores tomando vulto
em futuras cicatrizes
O sol é nada além do
vestígio dorido deste calvário
E eu esperei pelo calor, em
vão, até soar o telefone
Suas garras, arrancarem a
espera querida do sonho
O dia real amanhece frio e
cinza qual a dor deve ser
A dor de pedaços de um
coração, mudo, semimorto
Em que a morte é a melhor
companheira destes dias
As janelas que davam para a
vida, já estão fechadas
E a doçura é justo um
desenho distante no passado
Sinto-me como se dormisse e
sonhasse com uma vida
Em que há gente tão
distante, qual os dias de verão
Ou a ternura que apenas se
cultiva, mas não se vive
Sei que palavras ficarão
cruas nas escadas do tempo
Que este poema atropelado
sirva como monumento
De onde, um dia, alguém
lendo-o até em baixo verá
Que minha dor, ao que parece
sem fim, esteve aqui
Que sirva de adeus qual uma
crisálida transparente
Estampada em meu rosto, na
pressa de dias antigos
Pois que parti de tanto
sofrer, sem olhar para trás
Nenhum comentário:
Postar um comentário