Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quinta-feira, outubro 30
quinta-feira, outubro 23
Viagem
A viagem se
inicia com o abrir dos olhos, ao sul do lago
Sinto tua vibração em um tom de púrpura, quase seco
Por um desejo
de sol, abro as asas, vejo abrires as
tuas
Um céu nos é pouco, voamos em espirais sobre o jardim
Assim, conheço
o destino que nos apresenta e nos une
Voltamos a ser crianças tocados pelo branco do silêncio
Antes, quis imaginar-te
no meu sonho, cheia de volúpia
E te aninhavas nos meus braços, com esse olhar fugaz
Meio dia sob o
sol, fiz-me deitar em teus seios rosados
Como duas
ilhas num mar de júbilos aprecio teu corpo
De hermética geografia, vi reflexo do que é eternidade
Sou menino, caçador que descobriu mistérios de sereia
Ouço rumores de nossos corações, de absoluto prazer
Teus lábios junto aos meus, é meu maior
dom literário
O mundo é o sonho fugidio das voltas de minha cabeça
E eu o olho do alto do pedestal
que herdei das trevas
Nesses instantes é tu que és o meu poema, obra prima
Palavra de vida, em névoas azuis, clamo teu
nome, amor
segunda-feira, outubro 13
Rouxinol
Trago em mim todas lembranças da cidade da infância
Agora que o verde das estepes é
apagado pelo outono
Ainda ouvimos, antes da noite, longe, o último lamento
Dos pássaros que reptam as planuras em
suas rasantes
Lá ecoa, alto nesta estação do ano, os rumores do mar
Onde o ar recende ao odor de madeira
e terra molhada
As luzes amarelas das casas nos dão a
sensação de vida
Erguemos a face ao céu para sentir onde troa o trovão
E sem vê-los sei que os lobos correm
pela noite sem luar
Lembro da namorada adolescente, não, nada foi em vão
De passear de mãos dadas por árvores floridas na praça
Será que essa inocência agora está
tão distante de nós?
Há quem diga foram vozes perdidas no ar do entardecer
E que em vão se perscruta o pó em busca de
algo antigo
O rouxinol, ao cantar ao pôr-do-sol, morto caiu do galho
Mas não eu não vejo assim, sei que os dias são preciosos
A última batida deste meu coração
ainda não foi ouvida
Os mortos não têm sede e tenho
em mim a sede de amar
Na pele da noite
Entre as
nuvens de gris, surge um singelo rasgo de azul
Qual a êxtase de uma flor sobre desertos de concreto
De ventos remotos que vêm a trazer ares de despedida
Nada depende de pretextos, de perguntas e respostas
O sol, alegria dos gestos, se derrama a causar novo dia
Os sentimentos confundem, ébrios de azul e cimento
Mas, há a quem
o céu nunca abriu ou a porta na terra
Lamento por quem só vê pântanos e a palidez do nada
Flores murchas, aves confusas e inertes nuvens cinzas
Essa voz soará errante, até que o tempo
se faça espaço
Na fiel lembrança de tempos
outros e em outras cores
Olho ao longe o éter do olvido a girar em redemoinhos
Breve a tarde
se fundirá na luz de loucos
pensamentos
E pensar que ainda pode haver paz no afã
destes dias
Que um dia aprendamos a viver livres e independentes
Que haja um lugar com amores sutis na seda da
derme
Onde todas feridas convalesçam, sem deixar cicatrizes
O paradoxo de
toda relatividade que cerca nossa
vida
É que só escolhemos o que nos parece mais importante
Tal a estrela que não existe, mas luze na pele da noite
Glória
Não escrevo poemas
para glória
O verso vive de
vestígios de amor
O mirante vive
à beira do abismo
O homem de
barro quer a altura
A
transparência num só impulso
Não quer
reconhecer os sinais
O segredo que
brande a espada
Em direção a
seu peito, se move
Restará uma
mancha de sangue
Na glória, a
palavra do vencedor
No amor, o que
pulsa na ferida
O amor é
lenda, a glória a queda
quarta-feira, outubro 1
Paradoxais Paroxítonas
O quadro vazioNos ensina o medoFalamos de claridadeMas somos sombrasSuplicantesMescladosRostos que vêmRostos que vãoSignos de mistérioVivemos a caçarMas somos a caçaDa noiteDo vinhoCruzo pontesMas queria o abismoLemos a sangue frioEscrevemos poesiaA mulher loiraSe inclinaPara cheirar a flor.
Raiz
Busco a raiz, a fonte geradora para um escrever
justo e novo
Qual será o moto real da força
vital que dizemos que é nossa
O que nos impulsiona e move todos dias quando nasce o sol
Lá fora, além da teia viva da cidade, sob o rigor geométrico
Luz e sombras transitam e iluminam meus versos renascidos
Eu, alheio aos ardis do dia, observo os precipícios
da noite
Ouço passos
femininos pela calçada, sob a janela do quarto
Um perfume
airoso a se espalhar incógnito com a penumbra
Quem será que
se aproxima pelo silencioso império noturno
Minhas mãos tateiam o fecho da janela e
sinto o frio metal
Tranço os dedos e uma visão se faz livre, breve e reticente
Ela vem pela rua, figura entre o transparente e o encantado
Um fulgor único a iluminar a selva de concreto à sua volta
Qual toda uma constelação que pousa diante de meu olhar
Um arco de luz que deixa seu rastro em meio a antiga
treva
Qual uma serpente em azul que, por espanto, se
dirige a mim
Sua branda voz ecoa na madrugada e
desperta a minha alma
Um singelo
cumprimento, breve e aceso qual um relâmpago
Meus olhos
fitam seu sorriso cristalino, lhe faço um aceno
Ela amplia o sorriso e a sigo com o olhar até virar a
esquina
Contudo é o que basta à revoada de minhas aves notívagas
Que partem céleres querendo chegar antes dos
raios de sol
Roman d'Amour Moderne
Ao longe um apeloGrito surdo abafadoQue persisteExpira,Espira,RespiraBusca o infinitoSeu leitoCoração da noiteAbrigoE o silêncioEnormeTenho fomeNão demoreTeus lábiosE essa noiteInsanas trevasComo conseguesConsciênciaConsistênciaCoincidênciaOlhe, podes irNa boca, da noite,eles se beijaramse amaram edisseram adeusSua vidasubitamenteseguiu quaseimperceptível
terça-feira, setembro 30
Aldebarã
Nos meus poemas,
descrevi-me qual pássaro que plana
Sobre as
árvores que propõem histórias sobre homens
Escrevi dos peixes e escamas coloridas que não tatuei
Da areia que construí castelos e um farol à beira-mar
Disse, não do que fiz, mas do que viram estas pupilas
Todos saídos de meus sonhos pelos caminhos da vida
Infinito sonho, oceano de imagens, meu autorretrato
Anotei palavras que não entendia para me entenderem
Voei sobre a selva e sob um céu entre nuvens, tão azul
Juro não foi por intenção, queria tão só ser criança
Que aprende a
ler e descobre um mundo nas palavras
Imaginando o que poderia existir acolá do horizonte
Volte a dormir, a voz me disse, mas eu queria
acordar
Descobrir a imensidão que há
na ponta desta caneta
Seguir cada rota errante, por as cartas sobre a mesa
Crer que nem o sacrifício ou a cicatriz sejam em vão
Que estes rabiscos deitados sobre a folha do destino
São o que me tornaram o pássaro em voo a Aldebarã
Apaixonado, meio
a ventos boreais, cantar o amanhã
E para afrontar
aos incrédulos, ainda, ousar ser feliz
terça-feira, setembro 23
Inocência
Eu ouvi que a vida é breve e é nada mais que um
delírio
Com sua graça de
rosto de mulher sendo apenas destino
Que a loucura nos segue, mordiscando nosso
calcanhar
Que fingimos esperança para escapar da sórdida
morte
Mas eu, amante
e escritor, canto ora amor e ora oblívio
Em forma de poema, um pacto de dor, sussurros e beijos
Com o quê impeço os silêncios, nessas palavras deixadas
Sobre as pedras do caminho, canções
para serem livres
A noite acendo
velas, conecto sentimentos tão íntimos
Reinvento amor
do que seriam solidões quase imêmores
Na sua essência mais imaterial, quase fosse um estigma
Reanimo a volúpia, faço acender um novo elo de
fogo
Acima o céu de um azul profundo, hibrido de estrelas
Adiante o horizonte distante que funde o céu à terra
Ancorado às cinzas da eternidade completo os ciclos
Tento não cair outra vez na amarga ilusão de acreditar
As veias pulsam não por aguardar um dia de juízo final
A buscar no espaço onde haveria um lugar imaginário
Onde nada é
secreto, nem infinito no universo paralelo
O homem vive em seu abandono, ao perder
a inocência
quarta-feira, setembro 17
Girassóis
A solidão passeia seus véus na chuva de primavera
A água flutua desgarrada em mil gotas de espanto
E na beira do precipício dos meus olhos, a lágrima
Desgarra,
mergulha no vazio que a separa da terra
Qual um dia pudemos
esquecer, o mundo não para
Mas o
imutável, deixou-me um amargo na garganta
Ah, nós éramos heróis na fortaleza da madrugada
Então veio o sol e desnudou que nos pertencemos
Teu nome
escrito na floresta ora escorre pela rua
Na parede que dividiu a vida numa infinita solidão
A ruminar dores neste reino de pássaros sem asas
Não importa
estar cego, já que tudo restou cinza
O inverno trouxe a nudez das uvas em duas taças
Cheias de inútil vinho, o qual jamais iremos tomar
A falta da tua imagem deixou meus olhos silentes
Neste viveiro sem flores sobram portas sem chave
A ausente
fragrância de tua existência, calou-me
Já nem lembro a canção em francês que cantavas
De toda
ausência, restou o prazer de ter sido teu
Ser o teu
menino dos jogos só para te fazer sorrir
Ora sei, somos
mais pó que duas estrelas perdidas
Ocupamos uma
herdade de sonhos não realizados
Hoje sigo tua
lembrança qual quem já seguiu o sol
Assombrado da
certeza que não eram os girassóis
Verso Caído
Perdoe-me se este verso noturno saltou no papel
Antes que eu pudesse evitar, sim lutei
para evitar
Posso jurar que já te esqueci, tua foto já rasguei
Nem imaginei escrever nenhuma palavra
proibida
Eis que me faltam as melhores para te descrever
Quase pensei em rimar amor e dor ao falar de ti
Pois a vida negou-se a seguir,
tatuando-me a alma
Porém eu deixei partes em branco, qual silêncios
Feitos de nuas palavras há tanto impronunciadas
Que deixei em signos enterrados na areia do mar
Sem mapa algum para não os pudesses encontrar
Perdoe se aquela águia cativa partiu qual sonho
Revoada que te revelou, adivinhou, enfim
calou
Então fecha os olhos, já não há cheiro de maçãs
Ouve um último lamento, escrito em
clave de fá
Na dança do fogo, o som triste do oboé
em mim
Imagina que tudo o que abdicamos pelo
caminho
Repouse nas raízes da árvore d’um outro futuro
E que cujos
frutos não estarás aqui para provar
terça-feira, setembro 16
Catedrais
Do que se
fazem as palavras que compõem o poema
Terão a mesma matéria de carne e sangue do poeta
Qual o destino terão depois de escritas, aonde irão
Acompanharão quem as leu, nos lumes da memória?
Quiçá as palavras
nos sigam ocultas no pensamento
E irão ecoar nossos versos, como
marcas indeléveis
Imagens sem olvido que, de fato, nem sabemos bem
Serão as notas musicais da canção que
não se cala
Todas emoções,
sentimentos que irão à eternidade
Morrem e renascem à flor da pele, possíveis ou não
Vencem o limite de onde não se tinha certeza iriam
Apenas acontecem sem que alguém as
possa evitar
E onde irão as palavras que se calou? Diluir-se-ão?
Dissolver-se-ão na rua escura de amargos regressos
As vozes vazias morrerão na soleira d’alguma porta
Onde nos aguardará no final dos sonhos
realizados
Mas
a palavra certa faz tudo acontecer diferente
Mistérios decifrados, a primavera a
suceder o frio
A incerteza da aridez mitigada nos
braços da água
É o arco que impulsiona a flecha ao
alvo do desejo
O poema é a palavra qual a onda, que na
rocha bate
Ao invés de morrer, constrói em espuma, catedrais
segunda-feira, setembro 15
Poema Quântico
Dos versos
despontando palavras de quânticas esperanças
Levanta-se a nuvem de fumaça e a
multidão grita pela rua
Um grito glacial encerra um quadro de
imagens desmedidas
Dúvidas
violentas rondam os homens comuns nas esquinas
Árvores começam verdosas os dias que
vêm do desespero
Uma
estátua de sal surgiu na praça sob olhares incrédulos
O jornal mente sobre os feridos
e ninguém sabe nada além
Rostos impotentes
em seus cornos, começam o dia alheios
O criador poderia ter criado o céu, os
campos e os mares
Mas sem bíblias, vedas ou
alcorões e sem nenhuma guerra
Na sombra do medo de errar, resulta nosso maior
fracasso
Estão no meu cérebro, os delírios, os acertos e minha
selva
A nua
insistência de caminhar seguindo sempre em frente
Apesar das instituições e dos seus cordéis
de marionetes
Olvidar um comando que nos
manda jogar de Caim e Abel
Ser um poeta quase mitológico, possuído só por
si mesmo
Ser a pessoa como se é, embora disso
venha uma tristeza
Quando se termina de fazer amor e logo é preciso partir
quarta-feira, setembro 10
Hino à Independência II
A
mão estendidaPalma
acimaNada
mais tristeMão
humilhadaVoz
silenciadaNegro
centavoCinzento
pãoOnde
se faráCerrada
mão Punho verticalMastro
orgulhosoFilha
da revoltaVoz
incontidaBela
flâmula ígneaSangue
que escorrePela
verdadePelo
verde amareloPela
Pátria Livre
terça-feira, setembro 9
Tem(po)²ema
Ventava nessa tarde, era um final de inverno qualquer
Os olhos
miravam, vazios, os objetos flutuando pelo ar
Pouco a pouco se pôde sentir um cheiro de
terra úmida
Nuvens breves abrem frestas, para derramar raios de sol
Nos olhos humidamente vivos, brilha a íris sem o arco
A sombra do sorriso dela decompõe toda a dor antiga
E cruza todas as fronteiras sobre as areias e as ondas
Desvendando o espaço e a verdade entre mil estrelas
A tarde se esvai, qual as nuvens se foram, vem a noite
Os planetas em suas excêntricas órbitas tão distantes
Trazem o calor de sua lembrança, contando histórias
Sara-me as
feridas, apaga as mais profundas cicatrizes
Porém não me atrevo de novo a pronunciar seu nome
Apenas dizer que guardo em todas cores sua
imagem
No matiz do
silêncio, ouço-a a bater na porta da alma
Teço o verso como um laço de palavras para lembrar
Pensamento e movimento feitos em minha língua mãe
Queria aprender a voar, mas sem me arriscar no vazio
Abracei tantos
braços tão frios qual portas fechadas
Já conheci
anjos negros se disfarçando de esperança
Num mundo submerso pelo abandono, seguro sua mão
Invento meu
próprio tempo que se conta em estrofes
Que assim poderá eternizar o coração que nos habita
domingo, setembro 7
Poeta sim
Dos vórtices desta minha inesgotável solidãoSou quem conhece as verdades e os enganosForam inúmeras decepções, ó meu bom amigoO que não sei,
concebo e trago todas
provasPor vezes, eu
finjo aceitar as coisas como sãoFazer de coisas
banais, assuntos tão
sublimesOu assuntos
sublimes ter ares de
coisa banalNão, nad’isso se
vai aprender nas
faculdadesAprender-se-ia a ser um filósofo, poeta jamaisSerá capricho do destino este
peito retalhadoDar-se mais aos versos, que as máximas da leiDas artes de guerra e de toda nula
estratégiaPreferi as noites indormidas e o copo
ao ladoPortanto, cale-se antes de dizer que os versosPrestam apenas a estúpidas histórias de amorOu me fará que o mande à mais solene merdaJuntamente com tais questões de altivo
valorSou poeta sim, penso que nasci
assim. É cruelAtinar que as colunas valem mais que o sonhoDos vórtices desta minha inenarrável ausênciaSou quem conhece as emoções e as cicatrizesE posso dizer que não há realidade sem sonhar