quarta-feira, outubro 1

Paradoxais Paroxítonas

O quadro vazio
Nos ensina o medo
Falamos de claridade
Mas somos sombras
Suplicantes
Mesclados
Rostos que vêm
Rostos que vão
Signos de mistério
Vivemos a caçar
Mas somos a caça
Da noite
Do vinho
Cruzo pontes
Mas queria o abismo
Lemos a sangue frio
Escrevemos poesia
A mulher loira
Se inclina
Para cheirar a flor.

Raiz

Busco a raiz, a fonte geradora para um escrever justo e novo
Qual será o moto real da força vital que dizemos que é nossa
O que nos impulsiona e move todos dias quando nasce o sol
Lá fora, além da teia viva da cidade, sob o rigor geométrico
Luz e sombras transitam e iluminam meus versos renascidos
Eu, alheio aos ardis do dia, observo os precipícios da noite
Ouço passos femininos pela calçada, sob a janela do quarto
Um perfume airoso a se espalhar incógnito com a penumbra
Quem será que se aproxima pelo silencioso império noturno
Minhas mãos tateiam o fecho da janela e sinto o frio metal
Tranço os dedos e uma visão se faz livre, breve e reticente
Ela vem pela rua, figura entre o transparente e o encantado
Um fulgor único a iluminar a selva de concreto à sua volta
Qual toda uma constelação que pousa diante de meu olhar
Um arco de luz que deixa seu rastro em meio a antiga treva
Qual uma serpente em azul que, por espanto, se dirige a mim
Sua branda voz ecoa na madrugada e desperta a minha alma
Um singelo cumprimento, breve e aceso qual um relâmpago
Meus olhos fitam seu sorriso cristalino, lhe faço um aceno
Ela amplia o sorriso e a sigo com o olhar até virar a esquina
Contudo é o que basta à revoada de minhas aves notívagas
Que partem céleres querendo chegar antes dos raios de sol

 

 


Roman d'Amour Moderne

 Ao longe um apelo
Grito surdo abafado
Que persiste
Expira,
Espira,
Respira
Busca o infinito
Seu leito
Coração da noite
Abrigo
E o silêncio
Enorme
Tenho fome
Não demore
Teus lábios
E essa noite
Insanas trevas
Como consegues
Consciência
Consistência
Coincidência
Olhe, podes ir
Na boca, da noite,
eles se beijaram
se amaram e
disseram adeus
Sua vida
subitamente
seguiu quase
imperceptível

terça-feira, setembro 30

Aldebarã

Nos meus poemas, descrevi-me qual pássaro que plana
Sobre as árvores que propõem histórias sobre homens
Escrevi dos peixes e escamas coloridas que não tatuei
Da areia que construí castelos e um farol à beira-mar
Disse, não do que fiz, mas do que viram estas pupilas
Todos saídos de meus sonhos pelos caminhos da vida
Infinito sonho, oceano de imagens, meu autorretrato
Anotei palavras que não entendia para me entenderem
Voei sobre a selva e sob um céu entre nuvens, tão azul
Juro não foi por intenção, queria tãoser criança
Que aprende a ler e descobre um mundo nas palavras
Imaginando o que poderia existir acolá do horizonte
Volte a dormir, a voz me disse, mas eu queria acordar
Descobrir a imensidão que na ponta desta caneta
Seguir cada rota errante, por as cartas sobre a mesa
Crer que nem o sacrifício ou a cicatriz sejam em vão
Que estes rabiscos deitados sobre a folha do destino
São o que me tornaram o pássaro em voo a Aldebarã
Apaixonado, meio a ventos boreais, cantar o amanhã
E para afrontar aos incrédulos, ainda, ousar ser feliz

 


terça-feira, setembro 23

Inocência

 

Eu ouvi que a vida é breve e é nada mais que um delírio
Com sua graça de rosto de mulher sendo apenas destino
Que a loucura nos segue, mordiscando nosso calcanhar
Que fingimos esperança para escapar da sórdida morte
 
Mas eu, amante e escritor, canto ora amor e ora oblívio
Em forma de poema, um pacto de dor, sussurros e beijos
Com o quê impeço os silêncios, nessas palavras deixadas
Sobre as pedras do caminho, canções para serem livres
 
A noite acendo velas, conecto sentimentos tão íntimos
Reinvento amor do que seriam solidões quase imêmores
Na sua essência mais imaterial, quase fosse um estigma
Reanimo a volúpia, faço acender um novo elo de fogo
 
Acima o céu de um azul profundo, hibrido de estrelas
Adiante o horizonte distante que funde o céu à terra
Ancorado às cinzas da eternidade completo os ciclos
Tento não cair outra vez na amarga ilusão de acreditar
As veias pulsam não por aguardar um dia de juízo final
A buscar no espaço onde haveria um lugar imaginário
Onde nada é secreto, nem infinito no universo paralelo
O homem vive em seu
O homem vive em seu abandono, ao perder a inocência


quarta-feira, setembro 17

Girassóis

 

A solidão passeia seus véus na chuva de primavera
A água flutua desgarrada em mil gotas de espanto
E na beira do precipício dos meus olhos, a lágrima
Desgarra, mergulha no vazio que a separa da terra
Qual um dia pudemos esquecer, o mundo não para
Mas o imutável, deixou-me um amargo na garganta
 
Ah, nós éramos heróis na fortaleza da madrugada
Então veio o sol e desnudou que nos pertencemos
Teu nome escrito na floresta ora escorre pela rua
Na parede que dividiu a vida numa infinita solidão
A ruminar dores neste reino de pássaros sem asas
Não importa estar cego, já que tudo restou cinza
 
O inverno trouxe a nudez das uvas em duas taças
Cheias de inútil vinho, o qual jamais iremos tomar
A falta da tua imagem deixou meus olhos silentes
Neste viveiro sem flores sobram portas sem chave
A ausente fragrância de tua existência, calou-me
Já nem lembro a canção em francês que cantavas
 
De toda ausência, restou o prazer de ter sido teu
Ser o teu menino dos jogos só para te fazer sorrir
Ora sei, somos mais pó que duas estrelas perdidas
Ocupamos uma herdade de sonhos não realizados
Hoje sigo tua lembrança qual quem já seguiu o sol
Assombrado da certeza que não eram os girassóis
 

Verso Caído

 

Perdoe-me se este verso noturno saltou no papel
Antes que eu pudesse evitar, sim lutei para evitar
Posso jurar que já te esqueci, tua foto já rasguei
Nem imaginei escrever nenhuma palavra proibida
Eis que me faltam as melhores para te descrever
Quase pensei em rimar amor e dor ao falar de ti
Pois a vida negou-se a seguir, tatuando-me a alma
Porém eu deixei partes em branco, qual silêncios
Feitos de nuas palavras há tanto impronunciadas
Que deixei em signos enterrados na areia do mar
Sem mapa algum para não os pudesses encontrar
Perdoe se aquela águia cativa partiu qual sonho
Revoada que te revelou, adivinhou, enfim calou
Então fecha os olhos, já não há cheiro de maçãs
Ouve um último lamento, escrito em clave de fá
Na dança do fogo, o som triste do oboé em mim
Imagina que tudo o que abdicamos pelo caminho
Repouse nas raízes da árvore d’um outro futuro
E que cujos frutos não estarás aqui para provar


terça-feira, setembro 16

Catedrais

Do que se fazem as palavras que compõem o poema
Terão a mesma matéria de carne e sangue do poeta
Qual o destino terão depois de escritas, aonde irão
Acompanharão quem as leu, nos lumes da memória?


Quiçá as palavras nos sigam ocultas no pensamento
E irão ecoar nossos versos, como marcas indeléveis
Imagens sem olvido que, de fato, nem sabemos bem
Serão as notas musicais da canção que não se cala


Todas emoções, sentimentos que irão à eternidade
Morrem e renascem à flor da pele, possíveis ou não
Vencem o limite de onde não se tinha certeza iriam
Apenas acontecem sem que alguém as possa evitar


E onde irão as palavras que se calou? Diluir-se-ão?
Dissolver-se-ão na rua escura de amargos regressos
As vozes vazias morrerão na soleira d’alguma porta
Onde nos aguardará no final dos sonhos realizados


Mas a palavra certa faz tudo acontecer diferente
Mistérios decifrados, a primavera a suceder o frio
A incerteza da aridez mitigada nos braços da água
É o arco que impulsiona a flecha ao alvo do desejo


O poema é a palavra qual a onda, que na rocha bate
Ao invés de morrer, constrói em espuma, catedrais





segunda-feira, setembro 15

Poema Quântico

Dos versos despontando palavras de quânticas esperanças
Levanta-se a nuvem de fumaça e a multidão grita pela rua
Um grito glacial encerra um quadro de imagens desmedidas
Dúvidas violentas rondam os homens comuns nas esquinas
Árvores começam verdosas os dias que vêm do desespero
Uma estátua de sal surgiu na praça sob olhares incrédulos
O jornal mente sobre os feridos e ninguém sabe nada além
Rostos impotentes em seus cornos, começam o dia alheios
O criador poderia ter criado o céu, os campos e os mares
Mas sem bíblias, vedas ou alcorões e sem nenhuma guerra
Na sombra do medo de errar, resulta nosso maior fracasso
Estão no meu cérebro, os delírios, os acertos e minha selva
A nua insistência de caminhar seguindo sempre em frente
Apesar das instituições e dos seus cordéis de marionetes
Olvidar um comando que nos manda jogar de Caim e Abel
Ser um poeta quase mitológico, possuído só por si mesmo
Ser a pessoa como se é, embora disso venha uma tristeza
Quando se termina de fazer amor e logo é preciso partir

 


quarta-feira, setembro 10

Hino à Independência II

A mão estendida
Palma acima
Nada mais triste
Mão humilhada
Voz silenciada
Negro centavo
Cinzento pão
Onde se fará
Cerrada mão 
Punho vertical
Mastro orgulhoso
Filha da revolta
Voz incontida
Bela flâmula ígnea
Sangue que escorre
Pela verdade
Pelo verde amarelo
Pela Pátria Livre


terça-feira, setembro 9

Tem(po)²ema

Ventava nessa tarde, era um final de inverno qualquer
Os olhos miravam, vazios, os objetos flutuando pelo ar
Pouco a pouco se pôde sentir um cheiro de terra úmida
Nuvens breves abrem frestas, para derramar raios de sol
Nos olhos humidamente vivos, brilha a íris sem o arco
A sombra do sorriso dela decompõe toda a dor antiga
E cruza todas as fronteiras sobre as areias e as ondas
Desvendando o espaço e a verdade entre mil estrelas
A tarde se esvai, qual as nuvens se foram, vem a noite
Os planetas em suas excêntricas órbitas tão distantes
Trazem o calor de sua lembrança, contando histórias
Sara-me as feridas, apaga as mais profundas cicatrizes
Porém não me atrevo de novo a pronunciar seu nome
Apenas dizer que guardo em todas cores sua imagem
No matiz do silêncio, ouço-a a bater na porta da alma
Teço o verso como um laço de palavras para lembrar
Pensamento e movimento feitos em minha língua mãe
Queria aprender a voar, mas sem me arriscar no vazio
Abracei tantos braços tão frios qual portas fechadas
Já conheci anjos negros se disfarçando de esperança
Num mundo submerso pelo abandono, seguro sua mão
Invento meu próprio tempo que se conta em estrofes
Que assim poderá
eternizar o coração que nos habita

 


domingo, setembro 7

Poeta sim

Dos vórtices desta minha inesgotável solidão
Sou quem conhece as verdades e os enganos
Foram inúmeras decepções, ó meu bom amigo
O que não sei, concebo e trago todas provas
Por vezes, eu finjo aceitar as coisas como são
Fazer de coisas banais, assuntos tão sublimes
Ou assuntos sublimes ter ares de coisa banal
Não, nad’isso se vai aprender nas faculdades
Aprender-se-ia a ser um filósofo, poeta jamais
Será capricho do destino este peito retalhado
Dar-se mais aos versos, que as máximas da lei
Das artes de guerra e de toda nula estratégia
Preferi as noites indormidas e o copo ao lado
Portanto, cale-se antes de dizer que os versos
Prestam apenas a estúpidas histórias de amor
Ou me fará que o mande à mais solene merda
Juntamente com tais questões de altivo valor
Sou poeta sim, penso que nasci assim. É cruel
Atinar que as colunas valem mais que o sonho
Dos vórtices desta minha inenarrável ausência
Sou quem conhece as emoções e as cicatrizes
E posso dizer que não há realidade sem sonhar

segunda-feira, setembro 1

Guerra e Paz

O trabalho reclama os dias, consome as horas, pela batalha do dever
Em líquidas memórias impacientes, buscamos a calma sem encontrar
Deixo o benefício da dúvida sobre as energias gastas dessa maneira
Segundo após segundo, são passadas horas em ponteiros deslizantes
E avançamos para quitar as últimas ações, em uma estranha tristeza
Numa vitória inventada, a tarde vem para renovar as outras nuances
Num mágico poente, quando o sol se retira e nos colocamos a pensar
E imaginar que podemos sentir o perfume estival das flores do campo
Mas o que anuncia a chegada da noite é o novo e desalmado inverno
Eu que nem lembro ter visto o outono passar ou suas folhas abatidas
Penso que eu queria estar ao teu lado, sentir teus seios imponentes
Desatar-te dessas tuas vestes para chegarmos aos limites do mundo
Sentir o sangue fluindo no ritmo de pulsações aceleradas do coração
Quiçá fosse só uma espera para alongar o tempo, reduzir os espaços
Sob uma luz insinuante no quarto, espalharmos as roupas pelo chão
Chegar-me ao teu lado e aconchegar minhas coxas entre tuas coxas
Deslizar minhas mãos sobre tua pele, olvidar os edifícios e gravatas
Ser o sentimento exponenciado ao limite, partilhado só com os olhos
Conhecer-te como quem se olha ao espelho em admiração atemporal
Para quem veio da guerra do cotidiano, olvidar a selva de concreto
Assim eu declaro a paz, incondicional, para te dizer o prazer venceu

 


segunda-feira, agosto 25

Tão só poeta

Acordo sentindo-me tão distante e olho-me por dentro
A palavra brota em mim, sem raízes, lágrimas ou gritos
Antes, um poema intocado em mim mesmo, escondido
Um mundo terno que pensei criar à minha semelhança
Renascer, evoluir sem reclamos qual fruto do espírito
Sem usar das palavras para ferir a quem quer que seja
Apesar disso, nunca calar algo sutil, doa a quem doer
Papoulas sempre fiéis apontam rumos em meus sonhos
Homem ou pássaro sempre fui necessitado de carícias
Num mundo sempre feito com sangue, suor e lágrimas
Amei como se devia amar a quem nem sempre mereceria
E de qualquer forma nunca retribuído com proporção
Neste meu reinaugurado mundo não haverá melindres
Tudo impecável, uma vida urgente, sem algum ressabio
E um céu estrito onde todos os pássaros se sustentam
Não o eterno fora de mim, um universo desencontrado
Dentro de mim um exército de mim armado de sentido
Nunca mais um desterrado, ajoelhado ou rosto oculto
Contudo, consciente de que o poeta sempre andará só
Mas, plúrimo com versos que tocam pessoas e gerânios
Segurar estrelas com as mãos, dizer não a antigas faces
Um arcanjo e a caneta, não para ser herói, tão só poeta

 


sexta-feira, agosto 22

Solidão a Dois

Foi quase uma despedida comum, poderia ser natural
Contudo era para sempre, a última vez que ela sairia
Eu nem quis ir à porta para ter certeza que ela se ia
Passou por mim, como a desviar os olhos lacrimosos
Fingia nos lábios um sorriso, não fosse o leve tremor
Levava neles o sabor de meus beijos a noite passada
Levava mais partes de mim que eu poderia enumerar
Fragmentos de meu ser, no íntimo, nas coxas e seios
Acreditava levar, qual de hábito, as todas respostas
Contudo, levaria mesmo as perguntas irrespondidas
Deixando um rastro de perfume a invadir-me a alma
Fingíamos que podia ser singelo, sem alguma emoção
Deixou signos de si mesma, tatuados em toda parte
Apartados do oblívio, quando cavalgava sobre mim
Sussurrando coisas irrepetíveis, inundada de prazer
Eu esvaziei, deliberadamente, todas as suas gavetas
Como se assim pudesse despi-la mais uma última vez
Ter sua nudez molhada de novo por toda minha pele
Deixaria ela para trás, todaa angústia e dúvidas vãs?
Mas não, o moto da partida residia na solidão a dois
Eu sempre estive presente, ela nunca quis enxergar
A porta do taxi fechou-se, deixei um soluço escapar


Livro Azul

Eu, antes era tal qual fosse alguma soma finita
Um rio de parcas margens, fluindo sem destino
No sombrio interior da noite quando te conheci
Por épocas reinventadas, em tempos imemoriais
Havia em mim uma existência de milhares de sóis
Nas ruas, o alaranjado tom nas folhas de bordo
 
Não um tempo linear, vivo no imaginário popular
Onde se empilham horas em dias, meses em anos
Mas o tempo desespero de toda a tua ausência
E tu, qual que estivesses num universo paralelo
Diametral a minhas aspirações, a minha angústia
Subsistias alheia a tudo, respirando a minha luz
 
As partículas da margem delirante de meu caos
Fizeram sufocar o anseio de tocar tua armadura
Eis que asas emergiram-me às costas, então voei
Consumi o fogo, toquei o futuro, me fiz invisível
Sem pretender ser rude, abdiquei de teus beijos
Para cercar o peito com um muro de neurônios
 
Não és mais meu universo, tampouco um oceano
Mas gotas que escapam se tento agarrar a chuva
Tornei-me a espiral fugitiva, não te gravito mais
Mesmo que conserve a memória de tuas pupilas
Descobri que a dor, ora tem limites fora de mim
E assim escrevi este poema no livro azul da vida

  

terça-feira, agosto 19

Xituculumucumba

Minha poesia anda nua, pelas paredes pichadas dos guetos
E a polícia que, qual a noite invade o dia, invade as casas
Minha poesia anda crua nas ruas invarridas das metrópoles
De asfalto, de metal e concreto, sem árvores, mas gasolina
Minha poesia que é tão tua, caminhando ébria à beira-mar
Onde a onda que murmureja, beija as areias em seu ir e vir
Minha poesia sob a lua, mira o soldado que segura o fuzil
Com o olhar atento, pelas emboscadas sofridas nesta vida
Minha poesia não se amua, diante dos revezes cotidianos
Ergue a guarda, olhos nos olhos e se vai na estrada afora
Minha poesia ainda flutua, esteira de luz pela imensidão
No gesto sábio do pescador que, lento, atira a rede ao mar
Minha poesia não recua, antes é o grito do recém-nascido
Ou o tropel das manadas, d’algum canto triste na senzala
Minha poesia se situa, dentro do peito, atrás do coração
No frio da floresta escura, o trêmulo som do lobo a uivar
Minha poesia se insinua no olhar esquivo da garota ruiva
De sardas, na loja da esquina, rosas-de-gueldres a bordar
Minha poesia se perpetua em folhas de árvores no pomar
Brilhando ao rosear das mangas e avermelhar das maças
Minha poesia anda nua, despida do silêncio e incansável

Graciosa e esplêndida, na incontida insistência de viver