Como posso eu cantar
Se os pés da aflição me
pisam o coração
Será que os sonhos estão
mortos,
Caídos e abandonados na
praça,
Perdidos num lamento duro
como gelo,
Como um urro negro no meio
da noite,
Crucificados nos postes do
telégrafo.
Quando cai a noite,
árvores, animais,
Todas as imagens caras da
terra,
As fachadas de vazias
casas iluminadas,
Doem em meu coração
esterilizado pelas lágrimas.
Espero em vão neste
círculo de inumanos
Que ao menos alguém grite
no silêncio.
De todos os olhares que me
cercam,
Nenhum deles em verdade me
vê chorar.
Oculto meu peito
dilacerado pela saudade
Junto com as lembranças de
tudo que sou.
Percebo assim que sou seu
e não mais me possuo
Apenas me guardo para teu
querer.
Rasgo as noites em branco
tentando te encontrar
Sem que meus pés se movam
do lugar.
Onde estará meu coração
que já não o sinto?
É que bate agora em outro
peito
Não é mais solitário,
outra vida o tomou,
Feliz, embora saudoso,
esquecido de mim mesmo.
Me resta, nesses longos
silêncios, como consolo,
Saber que só aos mortos
não é permitido retornar.
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