O segredo da ausência é
essa presença disfarçada dentro de nós, é o apego com que tentamos segurar o
outro para saber-se junto, além da fala e dos sons coloridos.
A figura que se vai pela
porta de onde vem a fresta de luz matinal, leva consigo a sombra, mas fica o
rastro de seu perfume e todos os demais múltiplos detalhes do que agora é
apenas ausência.
O vago tom azul, reflexo
do céu, que entra pela janela devolve o olhar profundo e solitário ao que busca
em silêncio a contemplar as folhas frias sobre as quais se arrasta dolente a
pena.
Minha visão do caos não se
aclara, um pássaro agitado bate suas asas, traz a música da solidão ao pálido
alimento que engole como um ácido de angústia.
O que turva minha visão é
o manto da agonia a fluir do pensamento como um eco de espanto, restado da
noite finda opaca nas memórias do prazer que a iluminava.
A casa ainda guarda os
passos em sua face, guarda os sons de dois seres fundidos em uma só sensação
como um caminho para a luz que leva a toda a plenitude.
Nem canto das aves me
alegra as manhãs ou atinge a essência de querer quem deixou suas marcas
espalhadas pelos objetos que lhe absorvem a falta e vão repousar no fundo do
armário.
Na distância está o
princípio que a essência de cada coisa revela, distinta ao olhar do filósofo,
do geômetra ou do poeta, podendo ser uma fórmula estática ou uma forma com
pulsação e consciência.
Tua falta é viva, traz no
seu âmago uma dor que me faz resistir aos apelos fortes da noite trazendo a
medida dos laços do silêncio, do invisível, refletindo o negrume do
"não" em mim.
Minhas palavras desoladas
tentar reconstruir a cintilância de tua presença numa química de real
transmutação, mas esgotam-se as horas e sequer arranho o delicado prazer que
teu ser dá.
No interior destas trevas
que tua ida provoca, tento ser um deus para num clarão azul, vencer o tempo,
transpor o movimento, criar o som até ter de novo junto às minhas tuas mãos.
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