Não devo te dizer que mesmo sem ver já
te amo, que meu coração insano
Pulsa em descompasso a cada ilusão de
sentir teu corpo colado ao meu.
Releio este poema e duras lágrimas se
arremessam incontidas pela face
Cada vez que a algoz realidade da tua
distância me arranca do sonho.
Tua existência tem raízes profundas em
mim, mas sou apenas sombra
De trama sustentada, em rigor, por
formas em apenas duas dimensões.
Mera imitação no papel de teus singelos
contornos e formas delicadas.
Parca essência coagulada em um fino véu
de mil variações geométricas
É tua foto que olho sem fim como se
pudesse extrair movimento e textura
Ou se essas vívidas cores em papel
fossem traduzir teu perfume e sons.
Minha vida se põe suspensa numa pausa
que te espera, estática mas viva
E se alonga entre as imagens brilhantes
com que devaneio te encontrar
Projetando no real a tangível sensação
de um esperado abraço sem fim
O sentimento de querer-te define a
distância entre o vazio e o pleno
São o princípio e o nada simplificados
em um só sentimento - saudade
Saber que existes transforma o finito em
infinito, a sombra em ser
Ainda que nunca me seja dado correr os
dedos ao longo de teu rosto
Percorrendo-te cada curva em lentas
carícias, eternamente e sem fim
Com volúpia fazer meus pássaros
habitarem teu corpo a cada por de sol
E de teus lábios sorver o silêncio,
apagar do dicionário a palavra solidão
Mas hoje não, somente a amargura é a
velha e pertinaz companheira
Que diz: acorda tresloucado coração.
Acordado resta uma única certeza
Viverás em mim na mesma intensidade com
que o sol cresta o solo
Profundamente como um delírio feliz do
qual não se quer despertar
A matéria não é o real e o existir é uma
flor esquecida num lugar azul.
:-/
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