Certo dia, quando as trevas emolduravam meus dias
E o desespero açoitava inclemente as minhas noites
Quando os meus olhos choviam em amargas lágrimas
Duras sombras desprendiam-se por todos os cantos
Lá fora de mim a chuva também se derramava negra
Para escorrer acelerada
sobre o asfalto que molhava
Dentro de meu carro, eu queria fugir da minha vida
Pelo retrovisor, via rastros deixados como serpentes
Que me seguiam em meio à teia viva que me enredava
Na minha fuga fui me esconder nos alentos do sonho
Foi assim que te descobri, como que não sei explicar
Pois que foi de tintas de sonho, trêmulas de encanto
Que novo quadro passa a se desenhar nos relâmpagos
Vindo acender em meu corpo, um clamor dos cristais
A noite gris antes outonal, faz-se
de clara primavera
As sombras agora iluminadas se
movem por impulsos
Debaixo do fulgor
da madrugada que as ceifam à raiz
As serpentes
tornaram-se fitas coloridas de uma festa
Calando a voz acre da madrugada a acordar sua alma
Vejo tua imagem crescer em mim por laços vibrantes
Teus cabelos finos e delicados, dourados como o sol
Parecem como um campo de trigo batido pelo vento
A luz que surge dessas trevas ilumina-a descontraída
Teus olhos profundos ofuscam toda a mágica do céu
Pois, de tão vivos, não têm o rigor geométrico da cor
Alegres brincam de inocência suspensos em teu rosto
Teu rosto claro é a própria beleza convertida em face
Teu corpo em sua altura e balanço passeia pelas aleias
Dos parreirais que crio em sonho, és vinho inebriante
E contigo percebi que todos sonhos se realizam em ti
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