Clarões
Por todos os reinos e nos confins, clarões
Impiedosamente os céus varriam o
campo
Açoitando de vento e chuva o ar da
noite
e aos rebanhos a subir e descer as
ladeiras
Lá dentro, o ar recendia à terra
molhada
Chovia como lágrimas de uma noite em
fúria
Acho que a vejo qual lágrimas porque choro
Em silêncio, com meu olhar distante e
febril
Penso nela, o céu cinza de nuvens se
inflama
Repouso o rosto face à janela entre as
mãos
Somente a imagem dela me acalenta a
fronte
Entre soluços que não querem ser
consolados
É apenas isso. A noite avança e sigo
desperto
A noite avança fria e eu não me deixo
render
Mesmo pensando nas flores que ora não
vejo
Penso no que veste a solidão macia do
campo
Antes do dia, a terra será lavada muitas
vezes
E o sol nascerá tal a grande estrela
da manhã
Está em meu sonho das alvoradas da
infância
Crescendo anseio de reaver a criança
em mim
Logo será dia e as folhagens se
preparam à luz
Bem pouco do céu azula para lá das
vertentes
Anuncia o verde
da manhã a fertilizar palavras
Palavras que só saibam
dizer das coisas doces
E ao lê-las façam-na
sentir um tremor nos lábios
O tênue canto dos pássaros invadirá
os espaços
Depois, virão as crianças correr
pelas alamedas
Regenerando o meu
incurável e rebelde coração
Para espalhar a voz
rouca de minha alma a dizer
Que sua falta vai crescendo a cada
dia em mim
Aqui largado, para permitir tê-la em
meus braços
Penso no abraço que transcenda toda
distância
Penso que a roda do tempo fará nosso
encontro
Ao som dessa imaginação faço cessar
as lágrimas
Pois nesse abraço, sei que ela já faz
parte de mim
tão lindo....
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